segunda-feira, 18 de maio de 2009

A arte de lidar com pessoas

Há anos atrás, ainda nas aulas da universidade, eu tinha uma visão bem distorcida e, até certo ponto, melancólica da profissão.
Pensava que sinônimo de trabalho era: fadigar músculos, ultrapassar o limiar de esforço físico e deixar o aluno literalmente “seqüelado” no dia seguinte. O que me consola, nisso tudo, é quando percebo que a maioria esmagadora dos acadêmicos realmente pensa assim até boa parte do curso. Paciência, nós somos normais e passíveis de erro!
Meu Deus, quanta falta de conhecimento...quanta atrocidade...quanta imaturidade! Pior é que até hoje, infelizmente, muitos profissionais (se é que assim se pode definir) ainda cometem atrocidades.
O “mostrar trabalho”, na maioria dos casos, implica em comprometer a saúde de quem acaba pagando o pato: o aluno!
O assunto em pauta foi-me sugerido por uma aluna que vem modificando (para melhor, muito melhor!) seus hábitos diários, seu ritmo de vida. Ela vem percebendo, com muita nitidez, a importância de se observar o que se tem ao redor; todo o contexto de qualidade de vida.
Não me canso de bater nesta mesma tecla: o prazer das pequenas coisas. O segredo da felicidade e de fazer as pazes consigo mesmo está aí.
Lidar com pessoas é mais delicado do que se imagina.
Mas graças ao avanço tecnológico e ao conhecimento de novas áreas de pesquisa, essa idéia acabou modificando-se consideravelmente.
Hoje, os profissionais de Educação Física atuam em várias áreas, como: personal trainer, ginástica laboral, avaliações físicas, treinamento de equipes, preparação física, ensinos pré-escolar, fundamental e médio e por aí vai. Com isso, as relações interpessoais tornam-se, cada vez mais, sólidas.
O que deixamos de lado, ou que nos passa despercebida, é a importância que temos na vida dessas pessoas que passam por nós.
Nos tornamos AMIGOS no final das contas. A relação é de fidelidade. Da sessão de relaxamento para o grupo de alunos estressados com provas trimestrais à simples delicadeza ao ensinar movimentos de yoga a um senhor de 80 anos de idade.
Para se lidar com pessoas, é preciso PAIXÃO.
É preciso se AMAR o que se faz.
Saber lidar com pessoas é dom. Dom...ou se tem; ou se tem!
É saber que cada um tem suas particularidades. Não é simplesmente inventar uma fórmula mágica ou um personagem para se (auto)vender. A nossa função vai muito mais além do que alguns reais na nossa conta bancária.
Nossa primeira missão é exercitar o corpo, condicioná-lo para o dia-a-dia, melhorar a nossa qualidade de vida. Mas também exercitar a nossa mente, nossa alma, nosso coração. Nós somos o personal, o amigo, o confidente, o divã. Temos o dever de te fazer perceber a importância de qualificar a tua vida, o teu cotidiano. De nos fazermos pessoas melhores de coração!
No momento em que entendermos a importância das relações interpessoais (e o quanto nos ajudam a enfrentar os problemas), nosso corpo refletirá a nossa lucidez. 
Fiquemos atentos! Ação e reação: O corpo fala; reflete os teus atos! 
Na próxima edição, mais relatos sobre a linguagem corporal!

Chegada da primavera...bons fluidos a todos nós!

sábado, 16 de maio de 2009

Mitos e verdades

Verdade: glândulas mamárias

A sucção mamária induz a mulher a produzir leite, sem que ela tenha gerado a criança. Isso ocorre através da estimulação das glândulas mamárias.

Mito: hormônio do crescimento X treino

Há uns 8 anos atrás, quando se descobriu que o hormônio GH (hormônio do crescimento) agia à noite, alguns praticantes de musculação acreditavam que isso se dava em função da ‘escuridão’. Assim, se viu de tudo: alunos querendo treinar de madrugada e até realizando o treino de óculos escuros. Um absurdo! Felizmente, com a evolução das pesquisas, hoje, sabemos que ao abrirmos os olhos (ao iniciarmos as atividades diárias), o GH já desacelera consideravelmente sua função. Ou seja, o ponto em questão é o estado de repouso, e não a escuridão.

Verdade: comandamos nosso cérebro!

Ação do álcool manipulada pelo cérebro. Sim, nós mesmos manipulamos o nosso cérebro para ficarmos ou não alterados/afetados pelo álcool. OBS: durante a vida toda, utilizamos somente 10% da capacidade intelectual do nosso cérebro. Portanto, é aceitável a ‘manipulação’.

Verdade: sede X retenção de líquidos

Quando estamos com sede e não temos água ao alcance, mandamos, inconscientemente, informações para o cérebro de que não podemos ‘perder’ líquido. Assim, ‘não sentimos vontade’ urinar.

Mito: saco plástico X emagrecimento

O fato de se envolver em plásticos para realizar o exercício aeróbio, e, com isso transpirar mais, não emagrece não. Isso só ‘desidrata’ o corpo, fazendo com que percamos sais minerais e podendo, a longo prazo, gerar a ‘desidratação total’.

Mito: água gelada X metabolismo acelerado

Ingerir água gelada durante o treino acelera o metabolismo. Não. Essa informação não confere, pois o efeito é mínimo e não chega a ser considerável a ponto de acelerar o metabolismo.

Mito: cafeína X circulação

Que o café preto acelera a circulação sanguínea e aumenta a pressão arterial. A cafeína presente no café até teria ação significante sim, mas se ingeríssemos, aproximadamente, 80 litros de café por dia.

Verdade: circulação cerebral

Que, no nosso organismo, o cérebro é a única região em que a circulação é constante sempre (mantém o mesmo ritmo de oxigenação)!

Verdade: pressão alta

A hipertensão é o ‘tensionamento’ dos vasos sanguíneos. Portanto, o hipertenso deve ingerir muita água, pois a água ‘dilata’ os vasos.

Verdade: proteína X urina

A ingesta, em excesso, de proteína causa o acúmulo dessa substância na urina. E isso pode gerar um câncer (corpo estranho não identificado pelo corpo). Então, cuidado com as dietas protéicas e atenção aos alunos que ingerem doses extras às recomendadas, diariamente.

Verdade: ressaca alcóolica X desidratação

A ressaca pelo álcool se dá pela desidratação (perda de água através da urina). O ideal é que se ingira água, concomitantemente ao álcool.

Mito: sedentarismo

O organismo é considerado ‘sedentário’ após 2 meses sem a prática de exercício físico. Não! O sedentarismo se caracteriza após, apenas, 72 horas de repouso. Pra isso, a nível cardiorrespiratório, se recomenda a realização da próxima sessão de exercício num intervalo não maior que esse período.

Mito: treino X metabolismo

Posso treinar somente 2 vezes por semana que mantenho meu metabolismo acelerado. Não! Até 39 horas após a última sessão de treino o metabolismo se mantém acelerado (queimando gordura em grande velocidade). Após esse período, entra em repouso. O mais interessante, a nível muscular, é que se inicie a realização da próxima sessão num intervalo menor que essas 39 horas.

Verdade: medidas de emergência

O cérebro pode nos surpreender. Ele manda ‘medidas de emergência’ (no caso, força extra) quando, por exemplo, a mãe vê o filho trancado embaixo de um carro. Ela não mensura sua força. Simplesmente vai até lá e ergue o carro. Explicação teórica: medidas de emergência mandadas inexplicavelmente pelo cérebro!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

TPM: fugir ou, literalmente, sair correndo?

A Tensão Pré-Menstrual, mais cedo ou mais tarde, atinge até a mais tranqüila das mulheres. É hormonal, não tem como fugir. Porém, em maior ou menor intensidade. Mas de uma coisa podemos ter certeza: é melhor se precaver e já alertar a quem está por perto! Então, aí vai o recado:

_ Maridos, filhos, namorados, chefes, colegas de trabalho e população em geral: ao menor sintoma de TPM, fujam!!! Fujam porque aí vem bronca!! 

Há algum tempo, nem se ouvia falar em Tensão Pré-Menstrual. 
Esse assunto tornou-se mais evidente devido ao ganho de espaço social e profissional pelo público feminino. 
Atualmente, visto a ocupação e dedicação feminina, seja no campo pessoal/familiar ou profissional, as mulheres procuram entenderem melhor a si mesmas, de como o organismo funciona, e a como reagem mediante tratamento adequado. 
Hoje, em alguns casos, até se cogita o uso de medicamentos específicos para esse ponto da saúde feminina.
Os sintomas básicos da menstruação são: ansiedade, dor de cabeça, inchaço, uma fome de leão, cólicas uterinas (e como essas nos irritam profundamente!!! Urghhh!) e de manifestações psicológicas. Grande parte das mulheres ainda sofre com retenção de líquidos e claro, com isso, aumentam de peso (acho que isso nos irrita mais ainda!!)

Os homens não nos entendem. Sim, nós ficamos mais sensíveis e melodramáticas! Qualquer coisa é motivo de choro.

No período pré-menstrual, é quase impossível separar os sintomas. Eles nos acompanham juntinhos, lado a lado. O que não quer dizer que seja motivo relevante para deixarmos a prática esportiva de lado.
Precisamos da conscientização de que a menstruação não é doença. O nosso corpo se modifica, sim, durante aquele período, mas devemos procurar por atividades físicas menos agressivas, em que não exija tanta mobilização corporal. Optemos por atividades mais passivas.

O próprio organismo impõe seus limites nesse período. Do 1º ao 7º dia de menstruação, a performance reduz em até 30%, pois a mulher perde muito sangue. A eliminação de glóbulos vermelhos (responsáveis pelo transporte de oxigênio) está diretamente ligada ao desempenho. Até 450 ml de sangue pode ser eliminado num período de 24 horas.

O inchaço, no período pré-menstrual, se dá pelo aumento do hormônio que retém líquido, o cortisol. Isso pode ocasionar um “ganho de peso temporário” de até 2 kg.
O que ocorre, muitas vezes, é a própria mulher se sentir inchada, dolorida, cansada e triste. Aí, ela mesma acaba se auto-boicotando para não se exercitar e então, se empanturrar de doces e guloseimas...com a desculpa de que “eu estou na TPM!”.
Neste caso, o ideal é permanecer firme e forte no propósito de se exercitar, mesmo que seja só pela liberação da endorfina e pela sensação de prazer. 

A sensação gerada pelo exercício alivia e ameniza os sintomas. No início parece desconfortável, mas depois que o corpo aquece e se estabiliza, tudo se torna mais prazeroso. 
Nesse período, a temperatura do corpo feminino aumenta em até 1ºC. Assim, recomenda-se que, durante a prática esportiva, a mulher hidrate-se a cada 15 minutos, como também, molhe algumas regiões do corpo como testa, lábios, nuca e colo. Isso ajuda a regular a temperatura corporal, pois esta, por si só já estará alta e aumentará ainda mais com o exercício físico.

A corrida, por exemplo, ajuda a aliviar alguns sintomas. 
As cólicas menstruais aparecem de 3 dias antes até o 2º dia de menstruação. Então, como se trata de contração uterina, nada melhor do que a corrida, praticada com moderação, em baixa intensidade. Resultado: liberação de (bendita!) endorfina e sensação de prazer.
Pode ocorrer, com a prática da corrida, o aumento do fluxo menstrual, devido ao aumento da circulação sangüínea e uma pressão maior sobre a musculatura abdominal. Não há porque se assustar. É adaptação corporal durante aquele período específico.

Garotas, como não há uma fórmula mágica que nos faça “pular” as fases TPM e TDM (Tensão Durante a Menstruação – essa última por mim entitulada!), nos resta o conforto de saber que não estamos sós nesta batalha. 
Calma, muita calma nessa hora! 
E não se desesperem. Não se atirem nas guloseimas, por favor!!!

O exercício físico para o equilíbrio psicológico

Com a necessidade pela busca da saúde, obtivemos a feliz (!) descoberta da importância do exercício físico. A cada dia que passa, ouvimos mais casos de cura de depressão e stress pela prática deste. O indivíduo ativo se sente útil; necessário à sociedade. 
A partir deste mês, optei por adotar dois conceitos distintos: um para conceituar exercício físico e outro para atividade física. Temos, assim: 

- Exercício Físico: compreende o movimento corporal planeado, estruturado e repetitivo, executado para melhorar ou manter um ou mais componentes da boa forma física.

- Atividade Física: qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulte num consumo de energias.

Em pesquisa recente elaborada em Portugal, em um mesmo grupo, a incidência de doenças crônicas foi significativamente reduzida após o início do exercício físico. As pessoas que participaram desta pesquisa propuseram-se, voluntariamente, a seguir com a prática por tempo indeterminado, visto o ótimo resultado obtido. O exercício físico equilibra; limpa a mente, reduz as preocupações com os fatores diários de estresse, de fadiga mental, além de aumentar a esperança de vida, de manter o corpo saudável.
Deixemos de lado os estereótipos formados em torno do corpo, como medidas perfeitas, 0% de gordura e ossos à mostra. 
Nos dias de hoje, buscamos a qualidade física e mental, pois de nada adianta termos um corpo cujas medidas se enquadram naqueles padrões “anoréxicos” das passarelas, se nossa mente está contaminada.
Comecemos pela mente.
Precisamos parar de nos compararmos com a vizinha magérrima ou a colega de trabalho esquelética. Precisamos nos olhar interiormente e entendermos que todos nós somos diferentes; temos organismos e metabolismos distintos. 

Não somos produtos fabricados em série! 
Não viemos com etiqueta nem manual de instruções!

Na adolescência, são comuns e inevitáveis as comparações entre alunas de uma mesma turma escolar. Normalmente, as que não se encaixam nos padrões ditos “aceitos pela sociedade”, são sutilmente deixadas de lado. A maioria dos problemas psicológicos posteriores são originados aí. 
O grande fator causador da obesidade (exceto problemas hormonais, é claro!) é a má relação do nosso corpo com a nossa cabeça.
No momento em que paramos de nos auto-mutilar inconscientemente, por alguma razão (seja problemas de infância, traumas não resolvidos), o nosso organismo relaxa/respira e encontra o equilíbrio. Automaticamente, emagrecemos.
De acordo com a Sociedade Internacional de Psicologia do Desporto, os benefícios gerados pelo exercício físico estão relacionados com a aceitação da auto-imagem (e a não distorção desta frente ao espelho), sensação de bem-estar, aumento brusco na auto-confiança (principalmente as mulheres que exercem cargos importantes em empresas), alterações positivas no humor, no stress e depressão, menor ingesta de doces (isso automaticamente, sem dieta específica), clareza e organização de raciocínio e aumento da disposição (seja para os afazeres domésticos, seja sexualmente).
A maturidade feminina acarreta em vários fatores. A maioria das mulheres procura por exercício físico, na maioria das vezes, não por vontade própria, e sim por necessidade ou recomendação médica.
Após algum tempo, esse exercício se torna essencial ao bom funcionamento do organismo. Assim, a praticante sente prazer em se arrumar e sair de casa para realizar o seu exercício. Coisa que, até então, não se disponibilizava a fazer. 
Vale lembrarmos que alguns aspectos são primordiais a este estímulo: o ambiente em que se pratica, as características do treino, o bom relacionamento com os demais freqüentadores, a energia do local e aí por diante.

Procure o seu equilíbrio.
Procure se amar mais.
Valorize o seu corpo, a sua alma, a sua mente.

O mundo necessita de pessoas sãs!

O corpo fala

O corpo humano reflete o nosso estado de espírito.
Sendo um pouco mais prática, digo que em alguns momentos, como quando estamos atolados de trabalho, com problemas familiares, profissionais ou afetivos, automaticamente, nosso corpo dá sinais de desconforto. Esses sinais podem se revelar como rigidez muscular, dificuldade de relaxamento, compulsão, ansiedade e, possivelmente, transtornos gástricos. 
Tente lembrar-se da última vez em que pareceram problemas físicos: certamente foram reações a alguns fatos específicos. São sinais psicossomáticos.
Em determinadas épocas da vida, nos percebemos vivenciando uma auto-mutilação corporal, seja por dietas milagrosas; seja por excesso de treino físico. O pior nisso tudo é que não nos damos conta de que estamos exagerando na sobrecarga de treino e deixando a desejar na alimentação e no repouso. 
Nós aceleramos o ritmo diário, comemos o desnecessário e com baixa qualidade, dormimos pouco e não repousamos mentalmente o suficiente. Fazemos do nosso corpo um depósito de problemas. Acabamos nos lesionando pelas próprias mãos.
Noites mal dormidas, dores nas costas, contratura muscular, compressão vertebral, intestino preguiçoso, retenção de líquido, joelho que dói, torcicolo, resfriado, dor de cabeça, pressão alta, gastrite, crise hipoglicêmica. Descuida, tropeça e cai.
Pronto! Aí estão os sinais e, apenas um destes exemplos pode sinalizar o que o corpo estava “tentado” dizer. Por seus detalhes mais discretos o organismo não conseguiu se expressar o suficiente para que entendamos que ele está em estado de fadiga; cansaço extremo. Então, o que ele faz? Descuida por cansaço, como forma de alertar-nos, tropeça e cai mesmo. Essa foi a forma mais brusca de nos fazer entender que devemos reduzir nosso ritmo de vida.
Não sejamos relapsos com nosso corpo. Precisamos e dependemos dele para executarmos as nossas atividades diárias.
É impressionante como o cuidar do corpo ultrapassa as barreiras do bom senso, por vezes, e se perde no limite de ultrapassar sua capacidade física.
Temos casos de atletas donos de corpos esculturais e que sofrem de overtrainning crônico (sobretreinamento; excesso de sobrecarga). A carga exaustiva de treino é uma constante. Esse é o cotidiano desses atletas. O corpo está tão “viciado” na endorfina que não percebe. Mas quanto mais treina, mais quer treinar e assim, ignora os sinais de sobretreinamento.
Esses casos ocorrem tanto com atletas, como com praticantes regulares (nós, meros mortais!) de exercícios físicos.
No caso dos atletas, ignoram o overtrainnig e utilizam seu corpo como instrumento para alcançar os melhores resultados, os melhores tempos, a melhor classificação. A performance é determinada pelo condicionamento físico. Porém, em período de férias, quando o corpo reduz significativamente seu ritmo de treino, aí sim dá a resposta acumulativa dos sinais que não foram levados em consideração anteriormente. Neste período, baixa a imunidade e o organismo, vulnerável, começa a apresentar lesões, contraturas, resfriado, etc.
Nós, meros mortais praticantes e que não dependemos de resultados performáticos, podemos nos dar conta disso antes de entrarmos em overtrainning e evitar lesões psicossomáticas.
Portanto, observe e ouça mais o seu corpo! 

segunda-feira, 11 de maio de 2009

NBA admite erro de arbitragem na vitória do Denver em Dallas; Nenê perto das finais do Oeste

Pela primeira vez na história o Denver Nuggets tem vantagem de 3 a 0 numa série melhor-de-sete jogos, e mais uma vitória sobre o Dallas Mavericks na noite de segunda-feira dará ao time do pivô brasileiro Nenê a classificação inédita às finais da Conferência Oeste. Isso aconteceu com um final polêmico e eletrizante no Jogo 3 da série semifinal, vencido pelo clube do Colorado por 106 a 105 (48 a 45 no intervalo). No lance final, o ala-armador Antoine Wright tinha um só objetivo: fazer falta no ala Carmelo Anthony para impedir que o rival tivesse a chance do arremesso.

Ele esbarrou em Melo uma vez, forte o suficiente para desequilibrar o astro do Denver, mas a arbitragem não apitou falta, tentou de novo a falta, também sem apito, e nessa tentativa ficou fora de posição deixando o cestinha do Denver com uma visão clara da cesta para acertar a bola de três da vitória no último segundo na noite deste sábado, anotando seu 31º ponto na partida e silenciando a torcida que lotou o American Airlines Center de Dallas. Jamais uma equipe conseguiu reverter uma diferença de 3 a 0 na história dos playoffs. Numa partida que teve 61 faltas apitadas, a última que não foi marcada pode ter fechado o caixão do Mavericks e levou a NBA a uma atitude rara de reconhecer um erro da arbitragem.

“Eu já acertei muitos grandes arremessos na minha curta carreira, mas nunca numa situação como esta. Foi uma linha fina entre 2 a 1 e 3 a 0″, disse Carmelo Anthony.

Duas horas depois do apito final, o escritório da liga anunciou que Wright estava certo na reclamação. Numa breve declaração, o presidente da NBA Joel Litvin declarou: “No final do jogo Dallas x Denver nesta noite, os árbitros erraram ao não marcar uma falta intencional cometida por Antoine Wright em Carmelo Anthony, logo antes da cesta de três pontos de Anthony”. O resultado final poderia ter sido o mesmo porque o Nuggets ainda teria a posse de bola, mas a cesta de três sortuda de Anthony salvou o time em um desfecho controverso.

O começo do jogo do Nuggets foi complicado, eles erraram 15 de seus 17 primeiros arremessos e só converteram duas bolas chutadas de uma distância de um metro e meio ou mais da cesta em todo o primeiro tempo. Tiveram o mesmo número de faltas que de lances livres, e a dupla de pivôs formada por Nenê e Chris Andersen não fez uma boa partida, com o brasileiro errando seus oito primeiros chutes e o “Homem Pássaro” saindo eliminado com seis faltas em apenas 11 minutos de ação. Mesmo assim, o Denver manteve o placar parelho, jamais esteve atrás no placar por mais de seis pontos, e a incapacidade do Mavericks em fechar o jogo foi tão danosa quanto a falta não marcada de Wright.

Depois de brilhar nas duas primeiras partidas da série no Pepsi Center de Denver, Nenê desta vez marcou apenas cinco pontos, acertando só dois em 10 arremessos de quadra, mas sua última cesta foi importante, uma bandeja de costas encostando em 102 a 101 a 44,3 segundos do fim. O Dallas abriu 105 a 101 com uma bola de três de Jason Terry faltando 31 segundos, mas aí viu Carmelo penetrar o garrafão rapidamente para uma enterrada veloz descontando para 105 a 103 com 28,5 segundos por jogar. Cestinha do clássico com 33 pontos e 16 rebotes, o astro alemão Dirk Nowitzki errou um chute de quatro metros a 8 segundos do fim, e depois do triplo matador de Anthony, falhou em um arremesso de três no estouro do cronômetro.

“O jogo não se definiu só naquela última jogada. Você tem que fazer jogadas nos momentos decisivos, e nós simplesmente não fizemos isso”, admitiu o armador Jason Kidd, autor de 13 pontos e cinco assistências pelo Mavs.

“Esta foi a derrota mais dura de que já fui parte em meus 11 anos na liga, este era um jogo que tínhamos de vencer”, disse Nowitzki, que superou uma semana difícil fora das quadras com a prisão de uma mulher em sua casa e ainda sofreu uma contusão na perna no terceiro quarto.

Durante o tempo técnico antes da cesta da vitória de Carmelo, o técnico do Mavericks Rick Carlisle lembrou a seus jogadores que eles ainda não estavam no limite de faltas, tinham mais uma a cometer, e disse a eles para usarem esse recurso. A tentativa de Wright foi válida o suficiente para a direção da liga, mas não para o trio de arbitragem. O árbitro mais próximo do lance, Mark Wunderlich, foi o mesmo que não marcou uma falta no armador do Los Angeles Lakers Derek Fisher no fim do Jogo 4 das finais do Oeste no ano passado.

“O que vocês queriam que eu fizesse… derrubá-lo para fora da quadra e ter uma falta flagrante de nível dois apitada no final do jogo? (aí seria dois lances livres, expulsão automática do jogador e posse de bola para o Denver). Eu fiz a jogada naquela bola como me foi dito na nossa roda no tempo técnico e a falta não foi apitada”, afirmou Wright.

O técnico do Denver, George Karl, achou que foi uma grande decisão não apitar o contato e deixar o jogo correr. “Pareceu que ele (Carmelo) deixou a bola escapar e recuperou a tempo para o arremesso”, opinou.

Mas o revoltado proprietário do Dallas, Mark Cuban, mandou mais tarde um e-mail à agência de notícias Associated Press reagindo à declaração da liga que admitiu o erro dos árbitros: “É uma vergonha que o jogo tenha chegado a isto, mas essa é a maneira como as coisas acontecem na NBA às vezes”. Um comentário até educado considerando o histórico milionário de multas aplicadas contra Cuban por seu hábito de vociferar contra os árbitros e dirigentes da liga.

Se não foi bem no ataque, Nenê pelo menos foi o maior reboteiro do Denver ao lado de Anthony, capturando oito rebotes, o brasileiro ainda anotou quatro assistência, dois roubos de bola e cometeu cinco faltas. O armador Chauncey Billups foi o cestinha do Nuggets com 32 pontos e três passes para cesta.

sábado, 9 de maio de 2009

Ler vem de casa

Ler é lição que vem de casa

Crianças e adolescentes formam a maior parcela de leitores no Brasil

Carlos André Moreira e Paulo Germano

A situação do livro no Brasil é crítica, a juventude não lê nada, a escola não ajuda, os brasileiros leem pouco. Os exemplos acima são lugares-comuns repetidos exaustivamente quando o assunto em pauta é o índice de leitura dos brasileiros. Para choque dos alarmistas, quase todos estão errados: crianças e adolescentes formam a maior parcela de leitores no Brasil. Em parte, graças à escola. E sempre com apoio fundamental da família.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada há alguns meses pelo Instituto Pró-Livro, entidade que congrega instituições do setor, como a Câmara Brasileira do Livro, colocou pela primeira vez em termos científicos noções que até ali eram apenas intuídas, e permite uma ampla gama de abordagens a problemas envolvendo a disseminação do livro no Brasil. No mês em que se comemoram o Dia Internacional do Livro e o Dia Nacional do Livro Infantil, a pesquisa apresenta dados que, se estão longe do ideal, mostram um quadro menos pessimista.

– O índice de leitura no Brasil é muito melhor do que se esperava, porém ainda aquém do que se poderia chegar. Mas há notícias boas. Somos um país de 95 milhões de leitores – e dois terços deles vêm da escola. A leitura na infância está sim, ocorrendo. – comenta Galeno Amorim, coordenador da pesquisa.

Outro clichê recorrente quando se trata do assunto são críticas ao papel da escola como formadora de leitores, e elas são, sim, em parte justificadas. As pessoas leem na escola e abandonam o hábito à medida que se afastam dela – o que talvez falte seja a capacidade de envolver a leitura não apenas na aura de obrigação, e sim de encantamento, algo que passa pelo ambiente familiar. Tanto que a maioria dos que se definiam leitores na pesquisa (ou seja: que haviam lido um livro nos últimos três meses antes da entrevista) tinham como lembrança o incentivo da mãe e situações em que os pais liam para eles na infância. A consolidação do aprendizado da leitura se dá em casa.

– O nosso imaginário da leitura tem como referência a família. O professor pode ser bom, mas o que fortalece o ambiente de leitura é a ação dos pais – comenta Regina Zilbermann, professora de Letras na UFRGS.

Com ela, concorda o psicanalista e escritor de obras voltadas para crianças e adolescentes Celso Gutfreind. A leitura, na infância, precisa começar como uma curtição em grupo, segundo ele:

– Ler é ter prazer com a imaginação. E a imaginação não é algo que se desenvolve sozinho – ressalta Gutfreind.

Quem não lê é o adulto

Crianças em idade escolar normalmente leem mais do que os adultos por três fatores: crianças e jovens têm mais tempo livre, precisam ler por exigência da escola e nela têm mais facilidade de acesso aos livros. O grande nó está em como fazer essa população escolar continuar lendo depois de sair do colégio.

– A pesquisa mostrou que essa mesma escola ainda falha na tarefa de formar leitores para a vida toda. – diz Galeno Amorim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura e coordenador da pesquisa do Instituto Pró-Livro.

Há mais de uma razão para isso: a entrada no mundo profissional reduz o número de horas livres para a leitura, e a própria relação do aluno com a leitura na escola é associada com uma experiência obrigatória, a ser abandonada na primeira oportunidade.

– Sempre se diz que o jovem não lê, mas o que se vê é que o jovem lê, quem não lê é o adulto – ressalva Amorim. – Quando você pergunta aos estudantes a que associam os momentos de leitura, 60% diz que associa com prazer, e só 32% falam que associam com obrigação. O jovem gosta de ler, tem de ser é seduzido do modo certo.

A região sul tem a maior média de livros lidos por habitante, e o Estado tem uma boa média de leitura em comparação com os demais, 5,5 livros por habitante ao ano. Já a região "Noroeste" do Rio Grande do Sul apresenta o maior índice de leitura de todo o Estado: 6,6 livros por ano – e não por acaso é a área que inclui Passo Fundo, mostrando que duas décadas de Jornada Nacional de Literatura tiveram efeito positivo na formação permanente de leitores. Com política séria, os efeitos aparecem.

ZERO HORA