Mostrando postagens com marcador educação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador educação. Mostrar todas as postagens

sábado, 16 de julho de 2011

Adulto Jovem

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

sábado, 2 de outubro de 2010

Existe origem da crise de identidade do professor?

Existe uma origem da crise de identidade do professor?
Publicado: 02/10/2010 por Revista Espaço Acadêmico em educação, in memoriam
0

por PAULO MEKSENAS*

In memoriam

As palavras professor e profissão são próximas em seus significados. A primeira designa o sujeito que professa, isto é, aquele que diz a verdade publicamente. E a verdade é qualquer fato; fenômeno ou interação em conformidade com o real; significa expor corretamente; representar fielmente por princípios lógicos. Assim, o professor é aquele que torna público – socializa – algum conhecimento. A segunda palavra designa uma ocupação ou atividade especializada e voltada ao ato de professar.

Toda profissão afirma uma identidade e esta, por sua vez, “não é um dado adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. A identidade é um lugar de lutas e de conflitos, é um espaço em construção de maneiras de ser e de estar na profissão. Por isso, é mais adequado falar em processo identitário, realçando a mesma dinâmica que caracteriza a maneira como cada um se sente e se diz professor” (Nóvoa, 1996).

Crise de identidade do professor significa, portanto, uma crise da maneira de ser na profissão, isto é, uma crise no ato de professar e que implica em dificuldades na interação social; descontentamento na realização das suas atividades; descrença no seu papel social; etc. As causas da crise de identidade são diversas: conflitos na instituição de trabalho; baixos salários; pouco reconhecimento social; sentimentos de incerteza ou insegurança. Por outro lado, deve-se considerar que tal crise não é alheia à distinção entre o eu pessoal e o eu profissional. Em outros termos, é difícil desmembrar um modo de ser pessoal – crenças, valores morais, posturas ou aspectos do caráter – de tudo aquilo que compõem o modo de ser professor – crenças a respeito da educação, valores pedagógicos e posturas didáticas. Por maior que seja a semelhança das trajetórias profissionais de professores e as suas origens de classe, cada um desenvolve uma forma própria (pessoal) de organizar as aulas, de movimentar-se em sala, de dirigir-se aos alunos, de abordar didaticamente um certo tema ou conteúdo e de reagir diante de conflitos.

Ao tentar identificar o processo que origina a identidade do professor deve-se perceber, portanto, a indissolúvel união existente entre o professor como pessoa e o professor como profissional. As implicações dessa identificação são óbvias: não se pode exigir que um professor ofereça além das possibilidades e limites pelos quais foi educado. Não é possível que “jogue fora as suas crenças” e que “liberte-se da especificidade do seu caráter” quando realiza as suas atividades docentes. Trata-se de pensar sobre como determinados modos de ser pessoa relacionam-se ao exercício da profissão.

A partir de pesquisa a respeito de como os professores pensam a sua profissão, Fullan e Hargreaves (2000) identificaram algumas questões que acentuam a crise de suas identidades. Dentre as questões mais comuns os autores destacam: 1) a sobrecarga; 2) o isolamento; 3) o pensamento de grupo.

1) A sobrecarga. Professores estão conscientes que a profissão mudou nas últimas décadas. Ensinar não é mais visto como em ‘tempos atrás’, pois as obrigações ficaram diversificadas. Esses profissionais atuam em contextos com expectativas crescentes acerca do seu trabalho e a respeito da educação escolar. Assim, ficam mais inseguros.

A sobrecarga de atividades, em muitos casos, decorre da falta de diálogo dos professores com a população por eles atendida, ou com a equipe administrativa da escola em que lecionam. Quando não fica muito claro o que o professor pretende fazer junto com os seus alunos e os modos com que exerce a docência, pode ocorrer “cobranças”. Em vez de “quebrar” o excesso de expectativas sobre o seu modo de trabalhar e fazê-lo por meio do diálogo, o professor reage elaborando novos projetos; assumindo atividades extracurriculares (passeios com seus alunos, gincanas, competições, etc.). Organiza uma série de atividades que o leva para fora da sala de aula, com a intenção de chamar atenção à qualidade do seu trabalho: a sobrecarga, então, afirma-se.

2) O isolamento. Ensinar, há muito tempo, é conhecido como “uma profissão solitária”. Considere-se que o individualismo é mais uma questão cultural e menos uma peculiaridade da profissão. Entretanto, parece mais fácil e rápido preparar aulas sozinho. Nesse aspecto, muitos dos professores nem sequer imaginam a organização do seu trabalho com a participação de outras pessoas.

O problema do isolamento tem suas raízes: a) Uma arquitetura escolar que isola espaços, segrega pessoas. b) Horários rígidos e uma organização inflexível da rotina escolar impede interações sociais. c) Além disso, a sobrecarga de trabalho dá sustentação ao individualismo. Combater os contextos que levam o professor a isolar-se dos seus pares constitui umas das questões fundamentais, pela qual vale a pena lutar.

3) O pensamento de grupo. Quando destaca-se que o trabalho cooperativo pode ser um fator importante contra o isolamento a que os professores estão submetidos, é comum ouvir as expressões: “Mas os professores desta escola sempre formaram pequenos grupos de colaboração!” ou, “estamos sempre conversando, quando podemos”, ainda, “há tanta colaboração que formam-se ‘panelinhas’ de professores para disputar o poder de comando na escola”. Tais expressões são o retrato de que as propostas de trabalho coletivo possuem os seus problemas, muitos dos quais não podem ser ignorados. A princípio não existe nada instantaneamente bom no trabalho de parceria. As pessoas podem cooperar para realizarem coisas boas ou coisas más, ou, até para não fazerem nada. Um coletivo pode afastar os professores de atividades valiosas com os estudantes.

Para Fullan e Hargreaves (2000) o trabalho na escola apresenta um conjunto de idéias cristalizadas no tempo que, por responder à questões do passado são inadequadas e originam o chamado pensamento de grupo. Tal conjunto de idéias costuma limitar as ações daqueles que buscam inovar na instituição escolar. Seriam idéias como: “não faça isso que não vai dar certo!”; “já tentamos uma vez e não funcionou”; “essa pretensão é passageira, logo ver-se-á que o melhor é como sempre foi”. Outras idéias vêm reforçar a perpetuação de práticas e poderiam ser questionadas: “faça isso e você se dará bem nessa escola”; “aqui a melhor atitude é dizer sim e depois fazer como quiser”. Isto é, o pensamento de grupo – com origem no trabalho realizado em comum e na partilha das concepções daqueles que integram um determinado coletivo – torna-se em consensos da instituição e molda a ação de todos.

Os consensos são formados pelo justificar as práticas de um grupo. Independente do caráter desses consensos serem ou não oportunos; favorecerem ou não as práticas ditas progressistas ou, possuírem uma dimensão denominada competente, o significativo é notar que os consensos buscam uma uniformidade nas práticas docentes e na organização escolar. Tal uniformização costuma ignorar as propostas que não coadunam com as opiniões instituídas. O resultado é que muitos professores não se sentem representados em seus anseios, opiniões e projetos junto ao coletivo de professores, pois emitir uma proposição contrária ao pensamento de grupo traz sanções àquele que a profere.

Em síntese, a sobrecarga; o isolamento e o pensamento de grupo são questões capazes de ampliar a crise de identidade do professor. Mesmo admitindo que tal crise tem a sua origem em diversos fatores políticos, culturais e econômicos (locais e nacionais) vale observar, que as vivências cotidianas podem organizar-se de modo a intensificar ou minimizar o problema. A compreensão que percebe a pessoa e o profissional como faces indissociáveis da identidade do professor produz novas práticas, capazes de introduzir o respeito às diferenças de cada um. Escolas em que os profissionais não toleram ações e modos de pensar que não sejam idênticos aos do grupo, tornam-se instituições com probabilidade de gerar a sobrecarga, o isolamento e o pensamento de grupo.

Textos citados:

FULLAN, M. & HARGREAVES, A. A escola como organização aprendente. 2ª ed. Porto Alegre, Artmed, 2000.

NÓVOA, António. As ciências da educação e os processos de mudanças. In: PIMENTA. Selma Garrido. Pedagogia, ciência da educação? São Paulo, Cortez, 1996.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Volta a vaca fria

"Voltar à vaca fria" é uma expressão usada para retornar ao assunto principal em uma conversa, discurso ou discussão, que foi interrompida por divagações em temas periféricos. Como a vaca entrou nessa, é outra história.

De acordo com o professor Ari Riboldi, no seu livro 'O Bode Expiatório', essa expressão é a tradução da muito usada na França "revenouns à nous moutons", ou seja, voltemos aos nossos carneiros. Essa frase fazia parte da peça teatral 'A farsa do Advogado Pathelin', sobre um roubo de carneiros.

Esta peça, considerada a primeira comédia da literatura francesa, data do fim da Idade Média, precisamente do ano de 1460. Infelizmente, não se tem conhecimento do seu autor.

Mas, voltemos à vaca fria. Em determinada cena da peça, o advogado do ladrão faz longas divagações fora da questão principal e o juiz chama a sua atenção com a frase 'voltemos aos nossos carneiros', fazendo-o retomar o assunto.

Porém, a tradução para o português da expressão acabou transformando os carneiros em uma vaca. Essa distorção, segundo Riboldi, possivelmente se deva ao fato de que era costume, em Portugal, servir um prato frio feito com carne de gado antes das refeições, ao qual muitos comensais recusavam. Estava dispensda, assim, a "vaca fria".


quinta-feira, 23 de julho de 2009

PAPEL DA FAMILIA NA EDUCAÇÃO


"Família deve fornecer noções de civilidade", diz professor especializado em indisciplina
A falta de limites na sala de aula é o foco das pesquisas de Joe Garcia
A falta de limites na sala de aula é o foco das pesquisas do doutor em Educação e especialista em indisciplina Joe Garcia há mais de uma década. O professor do Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná adiantou ontem pontos da palestra que deve apresentar amanhã, no 10º Congresso da Escola Particular Gaúcha:
ZH – Quais são as causas da indisciplina?
Joe Garcia – Há causas externas e internas à escola. Entre as externas, três se destacam. A primeira é a violência social. Num mundo cada vez mais violento, as pessoas vão ficando menos solidárias. Isso está sendo observado nas escolas e tem muito a ver com a indisciplina. Outra causa externa é a influência da mídia, que está mexendo na visão de mundo e no estilo de vida dos jovens. Para os professores, é difícil lidar com toda essa variedade de expressões culturais. A terceira causa é o ambiente familiar. Estudos mostram que a participação da família no processo educacional é fundamental. Ela não precisa fazer o trabalho da escola, mas tem de assumir o papel de torcida organizada e dar noções básicas de civilidade.
ZH – E quais são as causas internas da indisciplina nas escolas?
Garcia – A primeira delas é a qualidade do currículo. Se a escola tem um currículo desatualizado, fica difícil para professores e alunos. Muitos jovens usam a indisciplina para comunicar aos professores que as práticas pedagógicas são ruins. Um dos grandes desafios da escola moderna é conseguir ser desafiadora. Às vezes, as aulas são menos desafiadoras do que um jogo de videogame.
ZH – O que os pais podem fazer para frear a indisciplina?
Garcia – Até certo ponto, a culpabilização da família é verdadeira. O que vemos hoje são adultos com a agenda lotada e com o dia basicamente caótico. Nós, pais, precisamos desenvolver maior interesse pela vida escolar dos nossos filhos. Precisamos estar mais presentes. É importante de vez em quando folhear os livros deles para valorizar os estudos e ir com eles a livrarias para mostrar que o conhecimento é algo interessante. São coisas simples e que não custam tão caro.
ZERO HORA

HUMANIZAÇÃO DA ESCOLA


A escola precisa ser uma referência de esperança e de humanização, diz especialista professor Joe Garcia apontou medidas para combater a indisciplina de alunos
A violência no ambiente escolar ganhou evidência neste ano com o caso de uma adolescente de 15 anos que agrediu uma professora na Escola Estadual Bahia de Porto Alegre, em março. A jovem alegou ter sido alvo de racismo e admitiu ter empurrado a professora, que bateu a cabeça na parede e sofreu traumatismo craniano. Como pena, o Juizado da Infância e Juventude determinou que a estudante ficará em liberdade assistida por seis meses e prestará serviços à comunidade por 24 semanas. A falta de limites na sala de aula é justamente o foco das pesquisas do doutor em Educação e especialista em indisciplina Joe Garcia há mais de uma década. O professor do Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná é um dos palestrantes do 10° Congresso da Escola Particular Gaúcha, no Centro de Eventos da PUCRS, na Capital. Na tarde desta quarta-feira, Garcia conversou em um chat com leitores do site Zerohora.com. Confira alguns dos principais temas discutidos: Agressão em sala de aulaAo responder sobre qual deve ser a atitude de um professor agredido verbalmente ou fisicamente em sala de aula, Garcia diz que o professor deve assumir uma "posição que pode envolver retirar o aluno de sala ou mesmo retirar a si, se há um risco a sua segurança pessoal": — Entendo a agressão como uma ruptura no tecido social da sala de aula. Isso vai solicitar a reconstrução desse tecido. Para isso talvez seja necessário uma trégua intermediária, ou mesmo ajuda externa. Falta de valores humanosUm dos leitores, que apontou a falta de respeito aos valores e de estrutura familiar, perguntou qual a postura que os educadores devem adotar para tentar corrigir esses problemas e oferecer uma formação de qualidade aos alunos. — A escola precisa ser escola, e assim um lugar de desenvolvimento humano, de humanização. A escola precisa ser uma referência de esperança. Há muito a fazer neste trabalho de humanização. É urgente, por exemplo, o trabalho de educação em valores humanos na escola. Se os valores não foram trabalhados "ontem" na família e na escola, hoje temos indisciplina, em casa e na escola. E quando temos indisciplina hoje, já sabemos que amanhã teremos de trabalhar valores. A indisciplina, em casa e na escola é uma medida de crise moral — diz Garcia. Segundo o especialista, a violência no ambiente familiar só agrava o problema da indisciplina: — O ambiente familiar faz internalizar na criança certas crenças sobre como tratar o outro, por exemplo. Assim, quando a criança experimenta um ambiente familiar onde se usa violência para resolver conflitos cotidianos, ela pode aprender que é lícito usar meios violentos para resolver conflitos. De fato, nossa civilização ainda precisa aprender a superar a tendência a usar formas violentas de lidar com conflitos, que tanto nos caracterizam. Na educação dos filhos, há metodos mais eficazes e menos violentos para ensiná-los a aprender a viver com os outros. Mudança de postura O hábito de professores de enviar os alunos que apresentam problemas de indisciplina para a direção da escola imaginando que a diretora vai resolver "todos os problemas" também foi um dos questionamentos feitos ao especialista. Garcia explicou qual deve ser a postura adotada pelas escolas para combater a indisciplina: — Penso que uma das primeiras ações a ser realizada em uma escola que deseja melhorar seu ambiente de disciplina reside em construir uma visão compartilhada sobre disciplina e indisciplina. Conquistar clareza sobre o que seja disciplina e indisciplina, o que será feito nos casos de indisciplina, por quem e como. Mas, quando não atuamos de modo integrado temos uma fragmentação justamente em momentos delicados. E, aos alunos, a escola parece frágil e até mesmo manipulável. Sobre como o professor deve lidar com uma turma indisciplinada, que tem um aluno que enfrenta o professor e esta atitude estimula os outros alunos fazerem o mesmo, o especialista destaca que "as estratégias mais eficazes para lidar com a indisciplina em sala de aula incluem os próprios alunos na equação": — Se os alunos são parte do problema, devem ser parte da solução. Nós, professores, precisamos compartilhar com eles os dilemas morais dos seus próprios comportamentos. Para se aprofundar no tema, ele dá duas sugestões de leituras: — Publiquei um artigo sobre a gestão da indisciplina na escola em uma revista chamada Contrapontos, onde analiso um conjunto de pontos fundamentais sobre esse tema. E há também um livro que acho muito interessante para professores, "Histórias de Indisciplina Escolar", escrito por Cintia Freller. ZEROHORA.COM

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A arte de lidar com pessoas

Há anos atrás, ainda nas aulas da universidade, eu tinha uma visão bem distorcida e, até certo ponto, melancólica da profissão.
Pensava que sinônimo de trabalho era: fadigar músculos, ultrapassar o limiar de esforço físico e deixar o aluno literalmente “seqüelado” no dia seguinte. O que me consola, nisso tudo, é quando percebo que a maioria esmagadora dos acadêmicos realmente pensa assim até boa parte do curso. Paciência, nós somos normais e passíveis de erro!
Meu Deus, quanta falta de conhecimento...quanta atrocidade...quanta imaturidade! Pior é que até hoje, infelizmente, muitos profissionais (se é que assim se pode definir) ainda cometem atrocidades.
O “mostrar trabalho”, na maioria dos casos, implica em comprometer a saúde de quem acaba pagando o pato: o aluno!
O assunto em pauta foi-me sugerido por uma aluna que vem modificando (para melhor, muito melhor!) seus hábitos diários, seu ritmo de vida. Ela vem percebendo, com muita nitidez, a importância de se observar o que se tem ao redor; todo o contexto de qualidade de vida.
Não me canso de bater nesta mesma tecla: o prazer das pequenas coisas. O segredo da felicidade e de fazer as pazes consigo mesmo está aí.
Lidar com pessoas é mais delicado do que se imagina.
Mas graças ao avanço tecnológico e ao conhecimento de novas áreas de pesquisa, essa idéia acabou modificando-se consideravelmente.
Hoje, os profissionais de Educação Física atuam em várias áreas, como: personal trainer, ginástica laboral, avaliações físicas, treinamento de equipes, preparação física, ensinos pré-escolar, fundamental e médio e por aí vai. Com isso, as relações interpessoais tornam-se, cada vez mais, sólidas.
O que deixamos de lado, ou que nos passa despercebida, é a importância que temos na vida dessas pessoas que passam por nós.
Nos tornamos AMIGOS no final das contas. A relação é de fidelidade. Da sessão de relaxamento para o grupo de alunos estressados com provas trimestrais à simples delicadeza ao ensinar movimentos de yoga a um senhor de 80 anos de idade.
Para se lidar com pessoas, é preciso PAIXÃO.
É preciso se AMAR o que se faz.
Saber lidar com pessoas é dom. Dom...ou se tem; ou se tem!
É saber que cada um tem suas particularidades. Não é simplesmente inventar uma fórmula mágica ou um personagem para se (auto)vender. A nossa função vai muito mais além do que alguns reais na nossa conta bancária.
Nossa primeira missão é exercitar o corpo, condicioná-lo para o dia-a-dia, melhorar a nossa qualidade de vida. Mas também exercitar a nossa mente, nossa alma, nosso coração. Nós somos o personal, o amigo, o confidente, o divã. Temos o dever de te fazer perceber a importância de qualificar a tua vida, o teu cotidiano. De nos fazermos pessoas melhores de coração!
No momento em que entendermos a importância das relações interpessoais (e o quanto nos ajudam a enfrentar os problemas), nosso corpo refletirá a nossa lucidez. 
Fiquemos atentos! Ação e reação: O corpo fala; reflete os teus atos! 
Na próxima edição, mais relatos sobre a linguagem corporal!

Chegada da primavera...bons fluidos a todos nós!

sábado, 9 de maio de 2009

Ler vem de casa

Ler é lição que vem de casa

Crianças e adolescentes formam a maior parcela de leitores no Brasil

Carlos André Moreira e Paulo Germano

A situação do livro no Brasil é crítica, a juventude não lê nada, a escola não ajuda, os brasileiros leem pouco. Os exemplos acima são lugares-comuns repetidos exaustivamente quando o assunto em pauta é o índice de leitura dos brasileiros. Para choque dos alarmistas, quase todos estão errados: crianças e adolescentes formam a maior parcela de leitores no Brasil. Em parte, graças à escola. E sempre com apoio fundamental da família.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada há alguns meses pelo Instituto Pró-Livro, entidade que congrega instituições do setor, como a Câmara Brasileira do Livro, colocou pela primeira vez em termos científicos noções que até ali eram apenas intuídas, e permite uma ampla gama de abordagens a problemas envolvendo a disseminação do livro no Brasil. No mês em que se comemoram o Dia Internacional do Livro e o Dia Nacional do Livro Infantil, a pesquisa apresenta dados que, se estão longe do ideal, mostram um quadro menos pessimista.

– O índice de leitura no Brasil é muito melhor do que se esperava, porém ainda aquém do que se poderia chegar. Mas há notícias boas. Somos um país de 95 milhões de leitores – e dois terços deles vêm da escola. A leitura na infância está sim, ocorrendo. – comenta Galeno Amorim, coordenador da pesquisa.

Outro clichê recorrente quando se trata do assunto são críticas ao papel da escola como formadora de leitores, e elas são, sim, em parte justificadas. As pessoas leem na escola e abandonam o hábito à medida que se afastam dela – o que talvez falte seja a capacidade de envolver a leitura não apenas na aura de obrigação, e sim de encantamento, algo que passa pelo ambiente familiar. Tanto que a maioria dos que se definiam leitores na pesquisa (ou seja: que haviam lido um livro nos últimos três meses antes da entrevista) tinham como lembrança o incentivo da mãe e situações em que os pais liam para eles na infância. A consolidação do aprendizado da leitura se dá em casa.

– O nosso imaginário da leitura tem como referência a família. O professor pode ser bom, mas o que fortalece o ambiente de leitura é a ação dos pais – comenta Regina Zilbermann, professora de Letras na UFRGS.

Com ela, concorda o psicanalista e escritor de obras voltadas para crianças e adolescentes Celso Gutfreind. A leitura, na infância, precisa começar como uma curtição em grupo, segundo ele:

– Ler é ter prazer com a imaginação. E a imaginação não é algo que se desenvolve sozinho – ressalta Gutfreind.

Quem não lê é o adulto

Crianças em idade escolar normalmente leem mais do que os adultos por três fatores: crianças e jovens têm mais tempo livre, precisam ler por exigência da escola e nela têm mais facilidade de acesso aos livros. O grande nó está em como fazer essa população escolar continuar lendo depois de sair do colégio.

– A pesquisa mostrou que essa mesma escola ainda falha na tarefa de formar leitores para a vida toda. – diz Galeno Amorim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura e coordenador da pesquisa do Instituto Pró-Livro.

Há mais de uma razão para isso: a entrada no mundo profissional reduz o número de horas livres para a leitura, e a própria relação do aluno com a leitura na escola é associada com uma experiência obrigatória, a ser abandonada na primeira oportunidade.

– Sempre se diz que o jovem não lê, mas o que se vê é que o jovem lê, quem não lê é o adulto – ressalva Amorim. – Quando você pergunta aos estudantes a que associam os momentos de leitura, 60% diz que associa com prazer, e só 32% falam que associam com obrigação. O jovem gosta de ler, tem de ser é seduzido do modo certo.

A região sul tem a maior média de livros lidos por habitante, e o Estado tem uma boa média de leitura em comparação com os demais, 5,5 livros por habitante ao ano. Já a região "Noroeste" do Rio Grande do Sul apresenta o maior índice de leitura de todo o Estado: 6,6 livros por ano – e não por acaso é a área que inclui Passo Fundo, mostrando que duas décadas de Jornada Nacional de Literatura tiveram efeito positivo na formação permanente de leitores. Com política séria, os efeitos aparecem.

ZERO HORA

O bom professor

O bom professor

Viviane Salvi Gertge, professora de matemática

Quando comecei no magistério, em 1980, a noção que se tinha de um professor passava suficientemente pela qualidade de ser o detentor do conhecimento específico de sua área. Se alguém propusesse um estudo voltado para as etapas de desenvolvimento das crianças e de como funciona a cabeça do jovem, de imediato, era visto como matador de tempo.

E por que alunos de 10, 11 anos não conseguiam aprender questões como divisão, expressões numéricas, problemas matemáticos, se fazíamos tantos grupos de estudos e nos esforçávamos para que nossas aulas fossem tão boas que beirassem a perfeição? A resposta veio com a abertura política, estudos e pensadores que nos deram caminhos para reflexão.

Ser professor, hoje em dia, não se resume a um esforço solitário de aquisição e transmissão de conhecimentos. É enxergar que estamos lidando com vidas, conflitos e expectativas. É estar envolvido com pessoas.

Para ser um bom professor, preciso conhecer o meu aluno, sua história, esperanças e sonhos, atribuindo significados aos conteúdos e mobilizando os educandos para que queiram ir mais à frente. Também é importante que o professor leve em consideração que uma sala de aula é um grupo de pessoas e que seu papel é, ou deveria ser, de liderança e de autoridade. Além disso, um bom professor, necessariamente, precisa ser um bom comunicador, para expressar conteúdos e transmitir estados afetivos.

E, finalmente, um bom professor é uma pessoa que ensina, mas que também aprende. É um ser apaixonado pelo que faz e pelos seus alunos. Prepara o ambiente de aprendizado. Não deixa a turma perder os limites, mas sabe rir junto com seus alunos. É uma pessoa que acerta, mas também erra. Caminha com seus alunos. Progride com o seu grupo de trabalho e reconhece que cada um é um ser em desenvolvimento. Acolhe e cuida. É exigente e estimulante.

A tarefa é bastante árdua, pois reunir todas essas características em um só professor é uma meta que pode levar uma vida inteira. Por isso, dizemos que a carreira do magistério é dinâmica e que a capacitação docente é contínua. Começa no primeiro dia em que entramos em uma sala de aula e provavelmente não acabará nunca.

ZERO HORA

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O peso ideal das mochilas das crianças

Saiba qual o peso ideal das mochilas das crianças

Carga não pode ultrapassar 10% do peso da criança; o tamanho também tem de ser levado em conta, e não pode ser maior que as costas . 

O telespectador sugeriu, e o Jornal Hoje fez a reportagem. 
O assunto é bem popular: As mochilas pesadíssimas que os estudantes levam para a escola. 
A blitz foi de surpresa, logo na chegada. Os fiscais do excesso de peso na mochila mandam todos para a balança. A equipe, formada por fisioterapeutas, explica que é preciso haver uma proporção: o peso da mochila pode representar no máximo 10% do peso total da criança. Ou seja, se o aluno está com 30kg, a bolsa não pode ter mais do que 3kg. Quando a medida está correta, eles levam cartão verde. Mas se o ponteiro sobre muito, vai o alerta. 
“A mochila dela tá pesando 6kg. Está pesando o dobro do que poderia”, diz Gerson Chekui, fisioterapeuta. 
"Acho que eu poderia tirar este estojo, botar um menor, porque esse é bem grande", diz garota. 
Em meia hora, 28 alunos passaram pela balança. Dezessete ficaram dentro do ideal. Bem diferente dos primeiros testes, quando a maioria levava cartão vermelho para a casa. 
O resultado é parte de um trabalho que começou há dois anos na escola e vai além da pesagem das mochilas. A segunda parte da lição continua aqui, na sala de aula, quando os fisioterapeutas ensinam os estudantes a cuidar da postura. 
"A gente procura encaixar o bumbum mais atrás na cadeira, naquele espacinho reservado para isso”, explica a fisioterapeuta. 
Também é bom prestar atenção no jeito de carregar a mochila. 
“A altura da mochila tem que estar o máximo possível próxima da altura dos ombros.” 
Tanta preocupação tem motivos: 
“Pode dar dor na região da cervical, mais perto dos ombros e pescoço, na região da lombar, naquela linha da cintura, e o risco também de alteração postural, ou uma escoliose, a curvatura, ou uma cifose, que é a curvatura pra frente.” 
A mochila de rodinhas ajuda, mas deve ser puxada ao lado do corpo para evitar a rotação da coluna. E para que os alunos não precisem andar com tantos livros, a escola adotou armários nas salas de aula. A lista de materiais também está mais leve. 
"Um caderno de capa dura, de espiral, de acrílico, ele pesa bem mais do que um caderno mais simples, então a escola opta, na lista, por aquele caderno mais simples”, diz Renata Selistre, coordenadora pedagógica. 
"Eu tirei um monte de coisas legais que eu trazia para o colégio para mostrar para minhas amigas. Eu tirei tudo isso porque eu não me preocupava com o peso, agora eu me preocupo, por causa da minha coluna", diz Júlia Eltz, 12 anos. 
E outra dica, que vale para os pais: na hora de comprar a mochila, o ideal é que ela seja do tamanho das costas das crianças. 
Mas não são só os pequenos que sofrem. Nós mulheres somos conhecidas por levar muita coisa dentro da bolsa. E aí as dores nas costas são inevitáveis. 
A fisioterapeuta Marta Lorenzini fala sobre os exercícios que podem reduzir o desconforto e como usar as bolsas sem prejudicar a coluna. Assista ao vídeo.

Baixo desempenho no ENEN

Escolas privadas do RS têm desempenho tímido no Enen

Colégios particulares de elite ficaram para trás na comparação com os melhores de outros Estados

A  julgar pelos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), as escolas de elite do Rio Grande do Sul não são tão de elite assim. A divulgação por colégio das médias obtidas nas provas de 2008 revelou que as particulares gaúchas ficaram para trás na comparação com as melhores escolas de outros Estados.

Na lista dos cem estabelecimentos privados com nota mais alta no Enem, apenas dois são do Rio Grande do Sul – contra 28 do Rio de Janeiro, 22 de São Paulo e 19 de Minas Gerais. Entre as 200 primeiras do ranking, os gaúchos emplacaram apenas seis instituições. A melhor posicionada, o Colégio Província de São Pedro, surgiu em um modesto 54º lugar. A outra gaúcha no Top 100 das privadas foi o Colégio Sinodal, de São Leopoldo.

A rede particular do pampa, em seu conjunto, obteve a 10ª melhor média entre todas do país – foi superada pelas redes de Estados como Goiás, Bahia, Espírito Santo e Santa Catarina. O mau resultado ganha ainda mais relevo em razão do desempenho da rede pública gaúcha, que foi o melhor do Brasil. Combinados, esses dois fenômenos fizeram do Rio Grande do Sul o segundo Estado com menor diferença de notas entre as escolas públicas e privadas. Na maioria do país, há um abismo entre as duas redes.

O desempenho opaco dos colégios privados de um Estado que se orgulha de estar entre os mais ricos e educados do país surpreendeu e alarmou especialistas. A doutora em Educação Helena Sporleder Côrtes, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), afirma que exames como o Enem devem ser relativizados, por serem pontuais, mas que não podem ser ignorados.

– O resultado é preocupante para o Rio Grande do Sul. É uma surpresa, porque temos instituições com tradição de qualidade. É preciso que as escolas examinem os resultados e encaminhem soluções, ainda que se sintam injustiçadas. Um resultado desses deve sempre encaminhar uma autocrítica.

A professora acredita que uma hipótese para explicar a escassez de particulares gaúchas no topo do ranking do Enem pode ser o foco exagerado em preparar para o vestibular – em lugar de valorizar em sala de aula as habilidades previstas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, nas quais o Enem é calcado.

– Muitas escolas se organizaram em função do vestibular. Na medida em que fazem isso, deixam de lado a formação – observa.

Enem pode ajudar particulares a repensarem seu ensino

O doutor em Educação Raimundo Helvécio Aguiar professor de política educacional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) faz a ressalva de que a capacidade de avaliações como o Enem para medir a qualidade do ensino é questionável. Mesmo assim, diz que o exame deve levar as escolas privadas a se repensarem.

– Se pensarmos no conceito de que escolas particulares, via de regra, recebem a elite, a indicação que o Enem dá é de que a elite gaúcha está sendo mal preparada. É surpreendente. Se for assim, essas escolas vão formar pessoas com menores condições para o mundo do trabalho. O Estado pode perder espaço em relação a outros – analisa.

Segundo Aguiar, uma possibilidade é que a qualidade de ensino tenha caído nas particulares gaúchas devido à perda de alunos ao longo dos últimos anos, o que teria levado as escolas a perderem professores e remunerarem pior.

ZERO HORA

Mudança na sala de aula

EDUCAÇÃO

O que vai mudar na sala de aula

Intenção da SEC é agrupar as disciplinas em quatro áreas de forma gradual a partir de 2010

A secretária estadual da Educação, Mariza Abreu, afirmou ontem que a nova organização dos conteúdos escolares na rede estadual será aplicada de forma gradual a partir de 2010. A proposta que agrupa as disciplinas em quatro áreas do conhecimento prevê o treinamento de professores para que lecionem, também, outras matérias. O projeto será levado à Assembleia Legislativa no mês que vem.

– Não significa que o currículo vai abandonar as disciplinas, mas que estará organizado em áreas em que as pessoas terão de trabalhar de forma integrada. O mesmo professor tem que dominar as disciplinas de sua área – diz Mariza.

A implementação do projeto, na avaliação da secretária, exigirá mudanças nos cursos de formação de professores. Para o Cpers, é um equívoco fazer um professor lecionar em disciplinas como biologia, física e química tendo ele formação em apenas uma. A seguir, tire dúvidas sobre o que deve mudar na sala de aula:

TIRE SUAS DÚVIDAS
O que pode mudar?
As disciplinas seriam agrupadas, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, em quatro grandes áreas, compreendendo as atuais disciplinas.
Quais seriam as áreas?
1) linguagens (português, literatura, língua estrangeira, arte e educação física)
2) matemática
3) ciências de natureza (biologia, química e física)
4) ciências humanas (história, geografia, filosofia e sociologia)
Com o agrupamento das disciplinas, um mesmo professor lecionaria pelo menos três disciplinas?
A ideia da Secretaria Estadual da Educação (SEC) é que, no futuro, todo professor esteja apto a lecionar qualquer uma das disciplinas integrantes da área de conhecimento a que está vinculado. Por exemplo, um professor de biologia poderia dar aulas de química e física. Já um de história poderia lecionar também geografia e filosofia.
Como seria a transição para os professores que já atuam na rede estadual?
Dependendo da formação do professor, ele precisará ser treinado para começar a lecionar uma nova disciplina. Segundo a secretária da Educação, Mariza Abreu, a intenção é realizar treinamentos dentro das próprias escolas, com apoio de professores que já têm formação na área. A expectativa é que, com o tempo, o professor esteja envolvido com menos turmas, o que aumentaria seu vínculo com os alunos.
O que muda para o aluno?
A principal mudança seria a redução do número de professores, já que eles concentrariam mais disciplinas. Os críticos da proposta temem que a mudança piore a qualidade do ensino, uma vez que um professor com formação em biologia, capacitado para dar aulas de química, não teria os mesmos conhecimento de outro que passou por uma licenciatura nessa área.
As provas seriam integradas também?
Sim. A ideia é agrupar as avaliações por áreas de conhecimento, mas algumas escolas poderiam manter avaliações separadas para história e geografia, por exemplo, disciplinas que integram a mesma área. A tendência é que o aluno tenha só quatro notas.
Qual é o modelo em que a SEC se baseia?
É inspirado em experiências de escolas paulistas, mineiras, portuguesas e argentinas. Também serviram de referência os parâmetros curriculares nacionais e projetos de interdisciplinaridade já desenvolvidos em escolas do Brasil.
O que muda nos concursos do magistério?
A seleção será feita por área de conhecimento, ou seja, as questões das provas abrangerão temas relacionados a todas as disciplinas que integram a respectiva área. A intenção da SEC é só abrir novo concurso após a aprovação das reformas previstas no ensino na Assembleia.
Como o Cpers vê as propostas?
A presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, avalia que a proposta é mais uma ação do governo do Estado para cortar despesas e reduzir investimentos em educação. Para ela, fazer com que um professor de biologia lecione também química e física, por exemplo, resultaria na queda da qualidade do ensino nas disciplinas que não fazem parte da formação original do docente. A avaliação é que a atuação em várias frentes seria benéfica ao governo por resolver o problema da falta de professores em determinadas áreas.
Existe um exemplo no Estado de escola com conteúdos integrados?
Algumas escolas utilizam métodos parecidos. No Colégio de Aplicação da UFRGS, em Porto Alegre, o modelo é desenvolvido desde 1996 com alunos de 5ª e 6ª séries, dentro do Projeto Amora.
No planejamento semanal são definidos os temas a serem abordados e previstas formas de professores de diferentes disciplinas interagirem. Apesar da integração, cada professor só leciona em sua área de formação. A avaliação é diferenciada. Não há nota, mas uma avaliação.