A Arte de Prevenir e os Fatores de Risco
“Na natureza não há castigos nem prêmios, só conseqüências.”
Pensamento chinês
.
A saúde é uma tarefa, não um dom natural, e deve ser conquistada a cada minuto durante toda a nossa existência. Embora outras pessoas e inúmeros fatores possam ter grande influência na saúde, ela depende essencialmente de nós. Há de se ter determinação, método e perseverança na adoço de hábitos saudáveis de viver e de pensar.
É necessário sabedoria, e, além disso, bom senso, para se dar prioridade, dentro das diversas alternativas, àquelas atitudes benéficas e indicadas para manter o bem-estar e a saúde. O segredo de viver bem é saber equilibrar e dosar nossas ações.
O ponto de equilíbrio perfeito é difícil de ser alcançado e exige planejamento e ação contínua. Não é uma tarefa fácil. O ambiente e as pessoas que nos cercam muitas vezes não nos propiciam situações compatíveis com nossos desejos e sentimentos, o que gera situações pouco favoráveis na busca do equilíbrio tão desejado.
A modernidade tem afastado demais o ser humano da natureza e dos campos da medicina. Apesar das grandes descobertas e do fantástico boom..coisas naturais, mas em compensação trouxe uma série enorme de benefícios para a humanidade nos mais diferentes aspectos, em especial no tecnológico, verifica-se que o mais importante “avanço” da medicina neste final de século, é sem dúvida a conscientização do valor da prevenção. Tem-se verificado que o grande obstáculo para se conseguir uma melhor qualidade de vida no mundo está nas próprias pessoas que vivem tensas, excessivamente preocupadas e não se sentem motivadas a cuidar devidamente da própria saúde. Ao tormento dos problemas circunstanciais que se avolumam cada vez mais e impedem o bem-estar das pessoas, somam-se os existenciais.
OS MALES DA ATUALIDADE
O homem moderno na sociedade contemporânea, em geral, tem hábitos que causam mais danos que benefícios à saúde. Usualmente leva uma vida sedentária e tensa. Quando se locomove no trânsito se expõe as frustrações, irritações, perigos e inalação de ar poluído com grande concentração de monóxido de carbono. Paralelamente, se superalimenta com excesso de carboidratos e gorduras saturadas, além de estar condicionado a se auto-administrar doses potentes de cafeína e nicotina. Durante seus momentos de lazer permanece relativamente imóvel, por cerca de três horas, diante de um aparelho de televisão, que lhe apresenta repetidas sugestões para adquirir produtos anti-higiênicos e nocivos à saúde e lhe provoca ansiedade ao despejar uma avalanche de notícias desagradáveis.
Várias razões e fatores são invocados como explicação para o homem não se cuidar. Uma das mais comuns hoje em dia é a alegação de falta de tempo. Mesmo assim, o ser humano sempre encontra tempo para comer, porque sente fome, e para dormir, porque sente sono. Porém, como estar com saúde não dói nem causa mal-estar, as pessoas não se dão conta de que a saúde existe, é um bem valioso, e só será “sentida” quando vier a faltar. Devemos nos lembrar que ao perder a saúde o viver se torna muito mais difícil.
MEDIDAS PREVENTIVAS.
As doenças cardiovasculares são as que mais matam em todo o mundo.Com razão, os médicos alegam que se sentem mais realizados e tranqüilos quando são procurados por pessoas saudáveis, nas quais ainda não se manifestaram as doenças típicas da meia-idade, como hipertensão arterial, isquemias e tromboses. Um dos objetivos da medicina preventiva é proporcionar uma vida saudável duradoura, evitando que as pessoas se transformem em pacientes de risco. Para isso lança mão de ações efetivas de prevenção que impedem ou dificultam o aparecimento das doenças. A atitude mais importante cabe à própria pessoa ao modificar seus hábitos e tomar medidas efetivas, práticas e exeqüíveis, na administração da própria saúde, para não descobrir tarde demais que manter a saúde e o bem-estar é mais lógico e mais econômico do que tratar a doença.
Se cuidar é questão de querer, é questão de auto-estima. A adoço consciente de medidas preventivas em relação à própria saúde é sinal de elevada auto-estima. Como diz José Ortega y Gasset, “o ser humano não tem prazer em simplesmente estar no mundo”. Ele tem prazer
tem que estar bem“.
Com boa saúde evitamos dores, sofrimentos e dificuldades econômicas, e não podemos esquecer que a natureza está pronta a nos ajudar,desde que façamos a nossa parte.
De um modo geral, todos nós vivemos de maneira inadequada. Os erros alimentares, decorrentes dos vícios adquiridos na infância e cultivados ao longo dos anos, ocasionam graves conseqüências. É preciso lembrar que o corpo humano é um complexo e sofisticado laboratório e que o seu metabolismo depende dos insumos que ele utiliza e que estão contidos nos alimentos. Daí a grande importância da qualidade da alimentação na preservação da saúde. Hoje o ato de se alimentar deixou de ser uma necessidade fisiológica para se tornar uma necessidade psicológica, mais propriamente emocional.
Por motivos culturais, a satisfaço em se comer alimentos frescos e saudáveis cedeu lugar ao prazer despertado pelos pratos mais sofisticados e a produtos industrializados, onde a presença de conservantes, corantes, maior quantidade de condimentos, açucare molhos e gorduras em excesso tanto mal fazem à saúde. Assim como a gasolina impura suja o carburador de um automóvel, os alimentos impróprios danificam o nosso organismo.
Um carro de fórmula 1 precisa de combustível especial e constantes revisões em seu motor para ter um bom desempenho. Da mesma forma, o corpo humano necessita de alimentação saudável e equilibrada — fonte de toda a sua energia — para um perfeito funcionamento. Sabendo-se da importância da alimentação para a saúde,
não faz sentido que se comam, sistematicamente, alimentos que façam mal
ao organismo. Poucas pessoas se preocupam em saber a origem dos alimentos que consomem no dia-a-dia, os métodos empregados na sua industrialização e as substâncias adicionadas para sua conservação e o que é fundamental — qual o seu conteúdo em nutrientes. O ser humano, salvo em raras ocasiões, não tem o instinto de comer determinado alimento que seu corpo está necessitando. De maneira geral não sente esse impulso que é comumente observado em diversos animais, portanto sua alimenta-
ção deve conter todos os nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo.
A boa nutrição através de refeições balanceadas, do sono reparador do caminhar diário, das férias e do lazer constitui alguns dos recursos utilizados pela medicina preventiva e os alicerces de uma vida saudável. Paralelamente devem ser combatidos os fatores contraproducentes que minam o organismo, como a vida sedentária, as tensões exageradas, os pensamentos negativos, a falta de motivação e a depressão. A arte de prevenir também deve ser direcionada para os chamados fatores de risco.
OS FATORES DE RISCO
Fatores de risco são parâmetros ambientais, circunstanciais, constitucionais e genéticos que quando identificados indicam maior suscetibilidade do indivíduo a desenvolver doença cardiovascular. Dados epidemiológicos apresentados em trabalhos científicos e de pesquisa em todo o mundo revelam maior incidência das doenças do sistema cardiovascular quando um ou mais fatores de risco estão presentes. São considerados fatores de risco: hereditariedade, aumento das sangue e estresse gorduras no sangue, particularmente o colesterol, hipertensão arterial,tabagismo, diabetes, sedentarismo, obesidade, aumento do ácido úrico.
Existem fatores de risco controláveis e não-controláveis. Infelizmente nos fatores de risco hoje considerados imutáveis te, ainda não se pode neutralizar os fatores de origem genética considerada não-controláveis. Todos nascem com maior ou menor predisposição a determinada doenças, dependendo do código genético pessoal. Estima-se que existam 100 mil genes em cada célula do corpo humano e ainda só conhecemos um quarto deles. O projeto Genoma, que deverá estar completo até o ano 2005, nos trará conhecimentos através do mapeamento dos genes humanos que permitiram aos médicos interferir.
Nos Estados Unidos, está sendo testado um chip de silício que poderá identificar 30 mil marcadores genéticos, a partir de uma amostra de DNA por ela “codificada”. É um importante passo para a identificação da função e da estrutura de cada gene que possa ser responsável por diversas doenças.
Em futuro próximo, a engenharia genética proporcionará aos médicos e cientistas a possibilidade de intervir com segurança e eficácia nos fatores genéticos, e todos os fatores de risco serão controláveis. Por ora, o que se pode fazer é investigar a genealogia patológica familiar para identificar o terreno minado das fragilidades orgânicas herdadas e, desta forma, tomar medidas preventivas para impedir que os problemas se manifestem ou se agravem.
Quanto aos fatores de risco controláveis, alguns se conseguem evitar. A medicina moderna dispõe de aparelhos que em poucas horas avaliam com precisão o estado de saúde da pessoa, e que fornecem dados fidedignos para que seja traçada uma política eficiente de prevenção. As doenças cardiovasculares têm nos fatores de risco seus grandes potencializadores : identificá-los e fornecer a orientação correta para combatê-los são os objetivos da medicina preventiva.
Pouco cuidado com a saúde propicia o aparecimento de doenças degenerativas precoces e mais complicadas, que causam sintomas incômodos e altamente limitantes, o que irá tornar a velhice mais penosa e difícil. A definição da medicina como a “arte de curar” hoje vai mais além. Ela se tornou também a “arte de prevenir”.