sexta-feira, 24 de abril de 2009

Dia das crianças

Repasso uma linda mensagem e um belo testemunho de vida.

Decio e as crianças

Olá a todos,

Este dia das criançasnão poderia passar assim em branco, afinal tenho uma dívidaeterna com elas ;-)

Atualmente trabalho numprojeto pré-piloto na Escola  Estadual Luciana de Abreu em  PortoAlegre. Este Projeto do Governo Federal chama-se Um Computador porAluno e pretende distribuir laptops educacionais progressivamente nasescolas públicas. É um projeto de inclusão social/digital onde estamosparticipando da elaboração da proposta pedagógica para ser implementadaem grande escala, a partir do ano    que vem.

Nesta escola, pude estabelecer um vínculo tão legal com as crianças,que todo dia quando chego na escola, elas fazem uma festa e vemcorrendo me abraçar. Fiquei uma espécie de ídolo das crianças e aimpressão que as pessoas tem é que eu sempre tive facilidade de lidarcom elas.

Nem sempre foi assim.

Estaminha relação com os pitocos não foi no iníciodas mais amigáveis.

A melhor definição que eutinha paraestes pirralhos era de uma música da década de 60: "umcapeta em forma de guri" ;-)

Eu era omais velho dos irmãos (somos emcinco) e passei parte da minha infância e adolescênciarodeados de irmãos menores e respectivos primos quedescobriram uma forma de me chantagear quando se juntavam. Elesdescobriram que o pai e a mãe sempre os protegiam por sermenores e sempre que eles podiam, se faziam de vítima (onde eusupostamente os teria agredido) para me verem levar a pior com ospais.

Desde então decidi quejamais teria filhos.Mas a vida me foi cruel e sempre colocou pirralhos no meu caminho.

Nokarate, não sei porquê cargas d´água meu Mestre achava que eu adoravacrianças e sempre me colocavapara pajeá-las. Quando o Mestre foi embora para o Japão,o professor que o substituiu abriu uma turma exclusiva de crianças eadivinha quem ele colocou para dar aulas para elas? E se isso nãobastasse, o tal professor pediu para que eu desse aulas para o filhodele, pois nem ele com todo arsenal intimidatório de regras eartimanhas para lidar com os filhos dos outros estava conseguindo darcabo de tal tarefa. Eu quase entrava em pânico nas aulas.

Mas eufiz uso de uma estratégia que hojepenso ser valiosa para mim: tudo aquilo que mobiliza em mim umaangústiamuito grande aponta para alguma coisa que eu preciso conhecer melhorpara poder lidar de forma adequada com estas situações. Pois casocontrário, estaria sempre fugindo e isto não resolveriao problema. Passei a utilizar esta estratégia para todas asquestões que encontro no dia-a-dia.

Daí resolvi fazer como oDrummond e coletara pedra que estava no caminho para pavimentar uma outra estrada ;-)

Fui aluta. Procurei prestar atençãoem como pais, autoridades, amigos lidam com seus filhos. Estudei,procurei ajuda com psiquiatras, psicólogos e psicanalistas.Entendi que precisava lidar com algo mais profundo e que tinha quever com minha própria infância. Comecei a entendermelhor porque a criança mobilizava estas sensaçõesem mim. Precisei fazer um resgate de minha própria infânciae estabelecer novos significados que se refletiram na forma como eucomecei a encarar as novas interações.

Eu fiz aspazes com uma criança que existiaem mim. Foi como se tivesse libertado essa criança e éela quem interage com as outras que encontra pelo caminho.

E oestranho é que hoje parece que tenho umimã que atrai as crianças. Assim foi no jardim deinfância onde dei aulas, no estágio em psicologiaescolar na Escola Municipal América, no Colegio de Aplicação da UFRGS,nokarate e agora na Escola Luciana de Abreu.

NoColégio de Aplicação, naépoca em que o colégio era junto à Faculdade deEducação, ali do lado da Redenção todos os dias eu passava por lá demanhã bem cedinho para ir para a aula. Eu morava na Casa doEstudante, que fica na João Pessoa, e o Aplicaçãoficava no caminho da faculdade.

Todos osdias, durante uns 15 minutos, euesculhambava completamente a aula do Prof. João (de EducaçãoFísica). As crianças quando me viam, saiam correndo daaula e subiam nas grades gritando: Dr Kaos! Dr Kaos! (Dr Kaos era umpersonagem, tipo cientista maluco, que criamos na ocasião e queinteragia pelainternet com as crianças. As crianças juravam que o DrKaos era eu, embora nos distribuíssemos no papel. Todos os colegas danossa equipe eram Dr Kaos em algum momento ;-)

Quando euvim para a Escola Luciana de Abreu, começoua acontecer algo parecido e, por coincidência, na últimaFeira de Ciências apareceu uma situação muitosemelhante com aquela que originou o Dr Kaos (o "Cientista Décio",criação de um aluno da terceira série, o Leozinho, era a encarnação doque seria o Dr Kaos), mas o mais legal é que foi puracoincidência.

Hojequando estou com as crianças, nãoé mais o Decio adulto que interage com elas, é o Deciocriança. Eu me transformo numa também.

Então o dia das crianças,tambémé meu dia! :-)

Feliz Dia das Criançaspara vocêstambém!

Abraços,
Decio

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