Transtorno criativo
Especialistas discutem a relação entre habilidades artísticas e doença mental em casos como o do pintor Vincent Van Gogh
Na arte, gênio a ponto de se transformar em um dos mais reconhecidos pintores da história. Na vida pessoal, homem de mente confusa capaz de levá-lo ao suicídio. Esse é Vincent Van Gogh (1853-1890), um dos principais nomes do pós-impressionismo, movimento europeu do final do século 19. A habilidade com os pincéis poderia ter ficado camuflada caso o holandês gozasse de saúde mental estável. O transtorno afetivo bipolar que o perseguiu por toda a vida o levou a uma depressão profunda, intercalada por períodos de grande euforia. Foram essas horas de bem-estar que potencializaram sua capacidade criativa diante de uma tela.
O pintor também sofria de convulsões, comuns a epiléticos. Uma doença que também pode ter colaborado para exacerbar a sua criatividade. Acredita-se que a coleção de mais de 800 cartas que escreveu poderia ser atribuída à hipergrafia, condição que provoca a necessidade de redigir continuamente e que costuma estar associada à mania e à epilepsia.
– Van Gogh é um exemplo clássico que demonstra haver relação entre os transtornos neuropsiquiátricos e a genialidade – explica o psiquiatra Mario Francisco Juruena, pesquisador do Institute of Psychiatry, do King’s College de Londres.
Pesquisas mostram que pacientes com transtornos afetivos, como depressão, bipolaridade e crises compulsivas, têm, por vezes, sensibilidade maior se comparados à maioria dos “normais”. São pessoas que, por causa dessas limitações, apresentam uma personalidade que as faz perseguir ideias e pensamentos com toda a força. Dedicam-se muito mais aos desafios que encaram do que os demais.
Quem sofre de problemas mentais pode ver a doença ceifar o talento pela raiz. Na 6ª Jornada Cyro Martins sobre Saúde Mental, do Centro de Estudos de Literatura e Psicanálise Cyro Martins, no dia 8, na Capital, especialistas demonstrarão como impedir que o transtorno esconda a genialidade.
– Pacientes que parecem loucos podem ter uma habilidade incrível. Se for desenvolvida, quebra o preconceito e faz viver melhor – explica o psiquiatra Cláudio Meneghello Martins.
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